Pelo contrário. Pequenos projetos, ou mesmo microprojectos, que pelas suas características, sua sustentabilidade, atenção ao meio a que se direcionam e a quem vão servir, são aqueles que produzem efetivamente um impacto real.
É um desses exemplos que nos chega de Moçambique, um país vasto, com uma área territorial mais de 8 vezes a de Portugal, e que faz parte do grupo de países com menor densidade populacional a nível mundial. A sua população, cerca de 3 vezes a de Portugal, e com exceção das principais cidades, encontra-se dispersa em pequenas comunidades rurais, que têm na agricultura familiar de subsistência, a sua principal atividade económica.
Bens básicos de uso quotidiano, que temos como adquiridos, como por exemplo a água, representam uma luta diária para os obter, que no processo geram outras dificuldades. Se uma criança tem como tarefa garantir o abastecimento de água à família, e nestas comunidades tradicionalmente são as meninas e as adolescentes que o fazem, percorrendo vários quilómetros diariamente para a obter e transportar, pouco tempo sobra para ir à escola.
Mas não é apenas a água que falta. Estima-se que 60% da população não tem acesso a uma fonte de energia elétrica permanente. E, paradoxalmente, muitas vezes não existe dinheiro em moeda corrente, mas sim nos telemóveis. Sim, é comum estas comunidades utilizarem aplicações para telemóvel, através da qual pagam e recebem. Mas para usar um telemóvel é necessária energia elétrica.
São múltiplas e inventivas as formas de o conseguirem, ora recorrendo a intermediários que recolhem os telemóveis da comunidade e os levam para carregar ou, mais recentemente, recorrendo a pequenos painéis solares portáteis de uso doméstico.
Foi neste contexto que o arquiteto Ruben Morgado, nosso parceiro à mais de uma década, e apaixonado por “ideias loucas”, desenvolveu um projeto que tem por objetivo fazer chegar a estas comunidades rurais, uma fonte de energia renovável e permanente: a “Girafa Solar” – Uma estrutura em madeira simples, com um alpendre coberto onde é instalado o armário técnico (as baterias e pontos de carga), e um “pescoço” no topo do qual se situam os painéis solares. O nome desta instalação, deriva da evocação visual que o perfil desta estrutura apresenta.
Este projeto implementado pela Fundação Carlos Morgado, conta já com 8 instalações, e vai muito mais longe que o inicialmente suposto. Para além de fornecer a energia necessárias para os telemóveis, acaba por se tornar um ponto de encontro e convívio, onde se ouve rádio, e um farol para a comunidade, proporcionando iluminação pública a comunidades onde a eletricidade não chega, ou “está na estrada” (eufemismo para expressar a frustração de ver ao longe os cabos elétricos que acompanham a estrada, mas que nunca a levaram à comunidade).
Este é um projeto em evolução, estando prevista a instalação da primeira Girafateca, ou seja, a Girafa solar dotada de uma minibiblioteca.
Fique a saber mais sobre este e outros projetos (por exemplo os “hippo rollers” que facilitam o transporte da água, libertando tempo para as crianças irem à escola), ou ouvir uma entrevista com Rubén Morgado onde ele nos conta em primeira mão a génese deste projeto. Basta seguir os links que disponibilizamos nesta página.